segunda-feira

victor

ganhar significa perder sempre que eu me esqueço de que estou aqui. porque existir obriga a um início que sempre terá um fim e ao qual eu fujo sem conseguir escapar. ganhar significa ter mais responsabilidade na falha e na celebração da vitória. porque a derrota sabe sempre melhor quando nos leva a ver onde falhamos e erramos. podia errar de mil e uma formas e nunca errar verdadeiramente, enquanto não soubesse como tentar recomeçar e voltar a falhar. ganhar significa desistir de continuar a tentar porque os motivos (se algum dia existiram) já lá não estão.

é a vitória que tento manter na clandestinidade. este doce sabor amargo que é saber que ganhei a oportunidade de te esquecer. de deixar que ganhes tudo o que perdeste sem mim. nem sempre as vitórias nos deixam felizes só porque sim, nem sempre ganhar significa reconhecer que fomos e sempre seremos os melhores. agora, significa apenas e só isto: que perdi um vazio imenso cheio daquilo que me faltava para ganhar uma réstia de liberdade, por mais provisória que fosse.

e enquanto existires, nada é garantido. enquanto quiseres ser carrasco de uma existência limitada pelos teus actos e decisões, todas as partes conseguintes continuarão a ser dubiamente piores que as primeiras. e provisórias. porque em definitivo, nada o é realmente. e eu, definitivamente, não sou vencedor de coisa alguma.

perdi-te sem te querer achar num tempo passado. se olhar para ti, não te reconheço. mas não quero. não quero continuar a olhar para aquele vazio sonolento como se fosse o mais belo amanhecer. não quero que continues a chamar por mim, por mais longe que esteja. não quero que dependas de mim, muito menos de qualquer palavra que de mim saia - porque se sair, é uma palavra sôfrega. e quando paro para olhar em redor, nem tudo está diferente. o espaço mudou, as pessoas mudaram, o tempo mudou. mas as memórias lá ficaram. cicatrizes puras, frias e indeléveis desta vil existência. se eu parar no tempo, mantenho-me soturno. se eu parar no espaço, mantenho-me quebradiço e assustado. quando eu parei nas memórias, senti só o vazio. porque razões para o encher de tudo e mais alguma coisa, perdi-as pelo caminho.

mas agora, ganhar significa perder-te.

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